Para casar, índios disputam prova de força no sul da Bahia

terça-feira, 19 de abril de 2011

19/04/2011 08h21 - Atualizado em 19/04/2011 08h29

Para casar, índios disputam prova de força no sul da Bahia

Homens têm que carregar toras com mesmo peso de suas futuras esposas.
No Dia do Índio, eles comemoram sobrevivência da tradição.

Do G1 BA, com informações da TV Santa Cruz
Os índios foram os primeiros habitantes do país. Hoje, na Bahia, não passam de 25 mil e precisam lutar para manter suas terras.
Nesta terça-feira (19), Dia do Índio, eles comemoram a sobrevivência. Na aldeia Pataxó, em Porto Seguro, no sul do estado, eles se reúnem, dançam e disputam jogos que mantêm a tradição.

A aldeia é uma das 35 que ficam no entorno do Monte Pascoal, o primeiro ponto de terra firme avistado pelas caravelas de Cabral, em 1500. No local, vivem 32 famílias, que tiram o sustento do artesanato, da agricultura e também do turismo. “Demonstrar que o índio não acabou, ele está firme. Apesar dos massacres e conflitos, os índios conseguiram resistir”, afirma Nitynauã Pataxó, presidente da Reserva da Jaqueira.

De frente para o mar, reproduzindo os sons da mata, até parece que o tempo parou há mais de 500 anos. Mas, a verdade é que muita coisa mudou desde o primeiro contato com o homem branco, como comprovam os achados arqueológicos dos povos indígenas que habitavam a costa da região, antes da chegada dos portugueses.
"Houve um grande salto na tecnologia indígena quando eles mudaram os instrumentos de pedra para os de ferro. Imagine o tempo que levava para cortar um árvore com um machado de pedra para um de ferro. Então, no momento que o índio viu o português cortando a árvore para para construir a cruz para a primeira missa, naquele momento, ele viu um artefato interessante que ele tivesse para facilitar seu dia-a-dia. Não bugiganga, as trocas não eram bugigangas para os índios", explica Jair Romero, diretor do Parque do Descobrimento.
A colonização também deixou cicatrizes, abertas até hoje. A luta pela terra se tornou uma das principais bandeiras da causa indigenista no país. Só nos conflitos envolvendo a reserva caramuru-paraguaçu, na região de Pau Brasil, mais de 20 lideranças da tribo Pataxó Hã Hã Hãe já morreram.
Segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), em três décadas, os índios perderam mais de 70% do seu território. Em 1981, havia pouco mais de 300 terras indígenas reconhecidas no Brasil, abrangendo uma área de 400 milhões de hectares, quase 47% do território nacional. Hoje, seriam quase 500 terras numa área três vezes menor, 105 milhões de hectares, cerca de 12% do território nacional.

Na Bahia, 80% das tribos estão em regiões que são disputadas na Justiça ou ainda não foram demarcadas. “A população em geral precisa reconhecer que somos índios. Uma história viva do descobrimento. Foi aqui que começou o Brasil, aqui que começou toda história”, afirma Seturiana Pataxó, gerente de assuntos indígenas.
O resgate cultural e dos costumes é outro desafio dos povos indígenas da região. O patohã, língua falada pela etnia pataxó, ficou quase esquecida durante um longo período. Hoje é ensinada aos mais jovens e praticada nos rituais e festas.
Para casar, índios carregam toras com peso da futura esposa em Porto Seguro (Foto: Reprodução/TV Bahia) 'Corrida da Tora' é tradição em Porto Seguro
(Foto: Reprodução/TV Bahia)
Disputas
Dos cerca de 25 mil índios existentes na Bahia, mais da metade vive no sul do estado. É no local onde a tripulação de Cabral desembarcou em 1500, que eles se reúnem para celebrar o dia 19 de abril.
Mais de 500 participantes disputam os jogos indígenas na praia de Coroa Vermelha. Uma forma de integrar as diversas etnias e divulgar a cultura destes povos. Uma das competições mais aguardadas é a corrida de tora. Prova de força que tem um significado muito importante na tradição indígena.
“O guerreiro quando passa por tudo, já está preparado para casar. Para casar mesmo, ele tem que passar por essa prova tradicional, que é a corrida de tronco. O índio só casa se conseguir trazer o tronco equivalente a sua esposa, com o peso da esposa, por 200 metros. Se não conseguir, não casa”, explica Amassuipituna Tupinambá, da liderança tupinambá.
Os jogos indígenas terminam nesta terça-feira (19), em Santa Cruz Cabrália. Pela manhã, em Porto Seguro, vai ser aberto o 12º Congresso de Resgate das Nações, para discutir políticas públicas em benefício da população indígen Fonte G1

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