v

sábado, 28 de maio de 2011

publicado em 27/05/2011 às 16h37:

Colômbia empurra Farc para a selva,
mas guerrilha continua atuante

Dados indicam que guerrilheiros são responsáveis por 173 mil homicídios
Rodrigo Vianna e Gilberto Nascimento*, de Bogotá e San Vicente del Caguán
Gilberto Nascimento/R7Gilberto Nascimento/R7
As Farc surgiram nos anos 60 e são uma organização que usa táticas de guerrilha para lutar pela implantação do regime socialista na Colômbia

Publicidade
Mais de 15 mil pessoas estão sepultadas sem identificação na Colômbia. No ano passado, 32 defensores de direitos humanos foram mortos no país. Boa parte dessa violência é consequência das Farc, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Embora tenha sido confinada à selva nos últimos anos, a guerrilha continua atuante, espalhando o terror.
Fotos: Farc ainda controlam partes da Colômbia
Guerrilha agora prefere atuar em pequenos grupos
Sequestros e ataques terroristas são corriqueiros no país vizinho, que em número de minas terrestres só perde para o Afeganistão. O governo tenta se livrar da imagem de violência, com um slogan otimista: “Colômbia - o risco é você querer ficar”.
Não bastasse a insegurança trazida pelas guerrilhas de esquerda, sobretudo as Farc, o medo aumenta com a atuação de grupos paramilitares de direita, criados para combater as primeiras. Segundo a organização Rede Paz, eles são responsáveis por 173 mil homicídios e 40 mil desaparecimentos forçados no país nos últimos quatro anos.
Com recuo das Farc, Bogotá vive dias tranquilos
Na chegada a Bogotá, nenhum motivo para sustos. Há uma aparente normalidade nas ruas. A violência parece ser a mesma existente em qualquer outra metrópole latino-americana. O visitante que circular rapidamente apenas pela capital tende a acreditar no discurso tranquilizador do governo. 


É fato que a guerrilha – representada pelas Farc e pelo ELN (Exército de Libertação Nacional) - praticamente sumiu dos grandes centros urbanos. Estrategicamente, recuou para a selva. Há cerca de oito anos, havia uma forte presença da guerrilha nas regiões centrais. Mas com o fortalecimento da Polícia Nacional, das Forças Armadas, e com a estratégia adotada pelo então presidente Álvaro Uribe  - de confrontação total -, os guerrilheiros foram retrocedendo, pouco a pouco, afirma o major Hector Eduardo Parra, da Polícia Nacional.
Parra está no outro lado, na Amazônia colombiana, onde o conflito armado é uma realidade e a guerrilha ainda tem forte presença. O major está no epicentro de uma batalha sangrenta. É o comandante da polícia em San Vicente del Caguán, uma típica cidade interiorana, a 700 km de Bogotá, cercada pela selva e pelas montanhas. Foi ali perto que as Farc nasceram, nos anos 1960. 

San Vicente del Caguán é reduto da guerrilha
De carro, é praticamente impossível chegar a San Vicente. Só há voos duas vezes por semana. O pequeno aeroporto, muito simples, é controlado pelo Exército. As Farc estão no entorno da cidade. São uma presença invisível.
San Vicente foi uma espécie de capital das Farc. Era uma das zonas desmilitarizadas e comandadas pela guerrilha, durante o frustrado processo de negociação com o governo de Andrés Pastrana, entre 1998 e 2002.  O Exército não entrava ali. O governo havia cedido parte do território para os guerrilheiros num gesto de boa vontade para negociar a paz. Mas não deu certo. A trégua acabou e a cidade voltou para as mãos dos militares.
Nessa região, estão as estruturas mais fortes das Farc – os chamados blocos oriental e sul da guerrilha. É uma área conhecida como "retaguarda das Farc" e onde elas reuniram a maior parte de suas estruturas logísticas.
     
“É onde historicamente estavam assentadas e onde também exercem o narcotráfico”, diz o coronel Carlos Alberto Herrán Robles, comandante em San Vicente da Operação Omega, uma força-conjunta criada por Alvaro Uribe em 2003, com 18 mil homens do Exército, Marinha e Aeronáutica, que antes atuavam de forma dispersa no combate às Farc.

Nessa área conflagrada, foi morto no ano passado o chefe militar das Farc, Mono Jojoy. O coronel Robles diz também ter sido a Operação Omega a responsável pela expulsão da guerrilha das áreas mais povoadas da Colômbia.
Farc perderam apoio
No duro confronto nos últimos anos, as Farc sofreram violentos golpes. Vários de seus líderes - como Mono Jojoy, Raul Reyes e Ivan Rios - foram eliminados. O chefe máximo, Manuel Marulanda, também morreu: de causas naturais. Além disso, a guerrilha perdeu o apoio e a simpatia internacional (de que chegou a desfrutar no passado), depois de recorrer aos seqüestros de civis e militares e envolver-se com o narcotráfico.

Hoje, as Farc mantêm em seu poder cerca de três mil seqüestrados. A estratégia de espalhar minas terrestres pelo campo também levou o movimento armado  a perder apoio popular. Politicamente, ficou isolado.
A guerrilha surgiu no país há 60 anos. Camponeses e operários foram para as ruas num movimento conhecido como Bogotazzo, em 1948. Foi a reação ao assassinato do líder político Jorge Gaitan. Houve uma brutal repressão, com milhares de mortos. Parte dos revoltosos foi para a selva, e deu origem aos movimentos armados que levariam à criação das guerrilhas.
Guerrilha cobra por “proteção” a fazendeiros
Hoje, o governo colombiano alardeia que as Farc estão definitivamente derrotadas. Mas não é isso o que se vê nas ruas de San Vicente Del Caguán. A cidade vive sob ocupação da polícia. Há um bunker na praça principal. O Exército tem bases espalhadas pelos morros e toma conta o tempo inteiro das estradas.
Os guerrilheiros continuam muito mais atuantes do que se imagina. No ano passado, realizaram ações em 205 municípios colombianos. Os relatos, porém, aparecem em poucas linhas nos principais jornais do país e em reduzidos minutos nos noticiários de televisão.

Ataques da guerrilha, inclusive na área urbana de San Vicente Del Caguá, continuam sendo freqüentes. Em setembro do ano passado, um ônibus da Polícia Nacional foi interceptado pelas Farc numa estrada da região e 14 soldados morreram queimados. Em janeiro, a guerrilha tentou entrar na cidade e houve um confronto. Morreram cinco guerrilheiros, três militares e uma menina de seis anos.

Domingo Perez Cuellar, da entidade de direitos humanos Caguán Vive, relata que, no início do ano, a guerrilha explodiu uma granada em frente ao prédio da organização. O alvo era o prefeito da cidade.

A guerrilha continua a cobrar na cidade e em toda a região a “la vacuna” (o pagamento por "proteção") de comerciantes e fazendeiros), como admitem o próprio Exército e a Polícia Nacional.

- A guerrilha está reduzida, mas não acabada, avalia  o sociólogo e ex-dirigente sindical Luis Sandoval, coordenador de Rede de Iniciativas pela Paz, organização atuante hoje em 400 dos 1200 municípios colombianos.

- Todos os atores do conflito armado mudaram a sua forma de atuação. Todos têm aprendido a utilizar modalidades novas de ações -, argumenta Fonte Eband

0 comentários:

 
 
 

Postagens populares