segunda-feira, 2 de maio de 2011


O terror de Osama Bin Laden, o inimigo número 1 dos EUA


A doutrina do ódio pregada por Osama bin Laden, cuja morte foi anunciada na noite deste domingo, marcou o mundo na virada dos anos 1990 para a década de 2000. Em 2001, com o maior atentado terrorista da história, ele escreveu com sangue seu nome na história. VEJA publicou dezenas de reportagens que contaram sua trajetória, analisaram seu impacto no mundo e mostraram os tentáculos da Al Qaeda – inclusive no Brasil. A seguir, uma seleção das principais reportagens sobre o inimigo número um da América.

Em 3 de março de 1999: Bin Laden, o terrorista número 1
Prisões, extradições, telefonemas interceptados, espionagem por satélite, investigação de contas bancárias. Os Estados Unidos armaram uma operação de guerra invisível de proporções mundiais contra o milionário saudita Osama bin Laden, que ganhou nos últimos meses o título de terrorista mais perigoso do mundo. A incessante atividade de bastidores, segundo informações divulgadas na semana passada, impediu sete atentados contra embaixadas americanas desde agosto do ano passado, quando Laden emergiu como o cérebro por trás das explosões no Quênia e na Tanzânia, que deixaram 224 mortos. Um dos ataques abortados irromperia em Montevidéu, a 350 quilômetros do território brasileiro. Os serviços secretos americanos têm um trabalho semelhante ao dos cientistas que procuram controlar epidemias recém-descobertas: não se tem idéia exata de como os microrganismos funcionam nem onde vão atacar, mas sabe-se que sua ação é ininterrupta e potencialmente letal.
Em 19 de setembro de 2001: O inimigo número 1 da América
Ao longo da história, o mal exibiu várias feições. Ele já teve os traços de Átila, o Huno, do mongol Gêngis Khan, do austríaco Adolf Hitler, do soviético Josef Stalin, do cambojano Pol Pot e do ugandense Idi Amin Dada. Hoje, o mal não comanda um exército, não mora em um palácio, não discursa a multidões. Seu rosto é o do saudita Osama bin Laden. Ele está sendo apontado como o provável cérebro por trás do ataque ao coração do império americano. Laden seria o responsável pelos atentados simultâneos às embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia, em 1998, que causaram a morte de 224 pessoas. Ele também teria perpetrado a explosão de um navio americano na costa do Iêmen, em outubro do ano passado, que resultou em dezessete marinheiros mortos. Credita-se a Laden, ainda, o suporte técnico, por assim dizer, ao primeiro atentado ao World Trade Center, em 1993, que contou seis vítimas fatais. O terrorista é tão mais assustador porque está sempre associado a um verbo no condicional — ele seria, ele teria. Laden jamais reivindicou a autoria das brutalidades que levam a sua marca. Assassina, massacra e amedronta, mas se mantém na sombra, renunciando ao narcisismo que costuma caracterizar as ações terroristas.
Em 26 de setembro de 2001: O Che Guevara do Islã
Milhões de pessoas ficaram chocadas com as imagens de alguns grupos muçulmanos comemorando os ataques ao World Trade Center e ao Pentágono. Outro espanto foi verificar que, em diversos países do Oriente Médio e adjacências, Laden é considerado um herói. O Che Guevara do Islã. Assim como o revolucionário comunista, o terrorista tem seu rosto e frases estampados em pôsteres e camisetas. Sua fama e popularidade, porém, não surgiram da noite para o dia. Laden foi ampliando sem parar seu círculo de veneradores desde 1979. Naquele ano, ele deixou a Arábia Saudita, onde gozava de confortos nababescos como integrante de uma das famílias mais ricas do país, para lutar no Afeganistão ao lado dos mujahidin, os guerrilheiros muçulmanos que combatiam os invasores soviéticos. ¿Osama não apenas deu seu dinheiro, como doou a si próprio. Saiu do palácio onde morava para viver com camponeses afegãos e guerreiros árabes. Cozinhava com eles, comia com eles, cavava trincheiras com eles. Esse é o seu jeito de ser¿, conta um ex-companheiro de batalhas do terrorista. Dono de uma fortuna pessoal hoje estimada em 270 milhões de dólares, Laden também seduzia por outros motivos. Pagava 200 dólares a cada homem que se dispusesse a lutar a seu lado, segundo disse um ex-general russo ao jornal Washington Post, na semana passada.
Em 10 de outubro de 2001: Os tentáculos de Bin Laden
Encontrar a toca de Osama bin Laden e aprisioná-lo significará uma vitória revestida de simbolismo para os Estados Unidos e seus aliados. Mas o trabalho não deve terminar por aí. É preciso destruir a Al Qaeda (“a base”, em árabe), que tem ramificações em mais de quarenta países e controla ou apóia de 3.000 a 5.000 terroristas, entre pessoal próprio ou pertencente a organizações associadas. Os objetivos dessa multinacional sinistra são, num primeiro instante, a derrubada, nos países muçulmanos, de todos os governos considerados pró-ocidentais. Depois, todas essas nações se uniriam num grande império governado exclusivamente pelos dogmas do Corão, o livro sagrado do Islã. Essas idéias fazem de Osama bin Laden, idealizador e chefão da Al Qaeda, uma personalidade tão delirante quanto o ditador nazista Adolf Hitler ou o ratinho Cérebro do desenho animado, aquele que acorda todas as manhãs com a obsessão de dominar o mundo.
Em 17 de outubro de 2001: O míssil e o barbudo
O que se deve esperar do futuro depois de os bombardeios americanos terem esfarelado o aparato militar do Talibã? Na semana passada, com o poderio bélico da superpotência rugindo sobre o Afeganistão, o que se ouvia das hostes do terrorismo era o desafio de uma guerra prolongada e sem fronteiras. Poucas horas depois de caírem as primeiras bombas, no domingo 7, Osama bin Laden conclamou todos os muçulmanos à Jihad, uma guerra santa. O cenário dessa batalha foi antecipado pelas palavras de Suleiman Abu Ghaith, o kuwaitiano barbudo que é o porta-voz da Al Qaeda, a organização de Laden. Depois de elogiar como “boa façanha” os atentados de 11 de setembro, Abu Ghaith profetizou: “A chuva de aviões não vai parar. Há milhares de jovens nas nações islâmicas ansiosos por morrer, enquanto os americanos estão ansiosos por viver”.
Em 5 de dezembro de 2001: Procura-se o DNA dos Laden
Nunca se pode ter certeza sobre o paradeiro de um chefão do terrorismo, como Osama bin Laden. Na sexta-feira passada o Pentágono estava convicto de que o tinha encurralado num complexo de cavernas fortificadas de Tora Bora, quase na fronteira com o Paquistão. O líder da Al Qaeda estaria acompanhado de uns 1 000 homens, mas praticamente sem meios de se comunicar com o restante da organização ou com seus amigos do Talibã. Com a aviação concentrando os bombardeios nas cavernas e as tropas da Aliança do Norte prontas para avançar sobre Tora Bora, os Estados Unidos já se preocupavam em elaborar planos para a rendição ou, mais provavelmente, para a morte do terrorista. Um dos guarda-costas de Laden é seu filho mais velho, que tem ordem de matar o pai para evitar sua captura. Um problema técnico será como identificar sem sombra de dúvida o corpo do líder da Al Qaeda. A fisionomia dele é conhecida e há também sua altura incomum, de quase 2 metros. Mas é difícil identificar uma pessoa morta por bomba, e qualquer cadáver fica com as feições comprometidas depois de alguns dias. Além disso, chegou-se a espalhar que Laden teria reunido vários homens parecidos com ele para eventualmente enganar seus perseguidores. Certeza mesmo só com um exame de DNA. A dificuldade é que não há um exemplar conhecido de seu material genético. A solução imaginada pela CIA, o serviço secreto americano, é coletar pedaços de tecido de seus parentes próximos, se possível de sua mãe, que vivem na Arábia Saudita.
Em 12 de dezembro de 2001: A derrota do terror
O mulá Mohamed Omar, chefe do Talibã, convocou seus seguidores a lutar até a morte em Kandahar, capital espiritual e última fortaleza da milícia afegã. Pessoalmente, o Comandante dos Fiéis, como o barbudo de um só olho é chamado, adotou outra estratégia. Negociou com o inimigo a rendição e fugiu da cidade no meio da noite, para evitar a inevitável punição pelo barbarismo do regime que comandou. Ninguém sabe quantos homens o acompanharam nessa jornada final – mas isso não preocupa ninguém, pois Omar é um personagem cuja importância se esvai junto com seu regime. O que se viu foram bandos talibãs aproveitando para saquear a cidade e escapar carregados de mercadorias roubadas. Terminou assim, sem os propalados atos de martírio ou heroísmo, o reinado da milícia que durante cinco anos impôs um regime de pesadelo fanático à maioria dos afegãos. A derrota do Talibã, agora reduzido a uns poucos bolsões recalcitrantes, não é o fim da guerra no Afeganistão, que continua dilacerado pelas rixas entre tribos e facções guerreiras. Mas, no que diz respeito à campanha movida naquele país pelos Estados Unidos, na sexta-feira passada só restava completar um objetivo essencial: a captura ou morte de Osama bin Laden, o homem que orquestrou os atentados contra Nova York e Washington em setembro.
Em 19 de dezembro de 2001: Bin Laden confessa
O mundo conheceu a violência do fanatismo islâmico com a transmissão ao vivo dos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. Na semana passada, graças a um vídeo amador, conheceu também o escárnio, a ironia e a perversidade do líder mais feroz entre os terroristas. O que se vê é Osama bin Laden relaxado, numa conversa franca com um visitante saudita. O terrorista se apresenta tão à vontade que, mesmo sabendo que o encontro está sendo gravado, assume sem subterfúgios sua responsabilidade nos atentados. Cercado de amigos barbudos, Laden debocha dos civis americanos e até de seus amigos extremistas mortos no ataque. Animado com a lembrança da matança, ainda recita versos. Também se mostra iludido quanto à verdadeira conseqüência da violência para o mundo dos fanáticos. “Nossos irmãos ficaram eufóricos”, diz na fita.

Em 24 de abril de 2002: O terrorista de sete vidas
É difícil acreditar que os homens na foto acima continuem vivos, livres e ainda mandando os videoteipes deletérios que se habituaram a usar na guerra da propaganda. Em outubro do ano passado, os soldados americanos chegaram ao Afeganistão com a missão de acabar com os terroristas da Al Qaeda e capturar, vivo ou morto, seu chefe, Osama bin Laden. Para isso, primeiro precisavam eliminar o regime dos talibãs, aliados carnais dos fundamentalistas. Essa parte da tarefa foi um sucesso: rápida, rasteira e bem menos dolorosa para os americanos do que as previsões mais otimistas imaginavam. A fase seguinte está sendo o oposto: um fracasso muito maior do que se prognosticava. Cerca de 500 membros da organização terrorista estão presos, na esmagadora maioria gente sem nenhum papel de liderança. Laden e parte de sua corte de radicais graduados continuam à solta, provavelmente em algum lugar das montanhas do Afeganistão, não obstante o formidável aparato bélico e tecnológico colocado em sua caçada. Segundo fontes dos serviços de inteligência dos Estados Unidos deixaram vazar na semana passada, ele escapou, nas barbas dos americanos, da batalha travada no fim do ano nas montanhas de Tora Bora, na parte leste do Afeganistão, a poucos quilômetros da fronteira com o Paquistão.
Em 20 de novembro de 2002: “Nós vamos matar você”
Na última vez em que o serviço secreto americano obteve uma pista confiável sobre o paradeiro do saudita Osama bin Laden, há quase um ano, o chefe da Al Qaeda e seu alto comando estavam cercados nas montanhas de Tora Bora, no leste afegão. Depois disso, o terrorista sumiu sem deixar rastros – o que levou à suspeita de que teria morrido durante os pesados bombardeios americanos na região. Na semana passada surgiu um indício forte de que Laden continua vivo e no comando da guerra santa contra os Estados Unidos e todos os cristãos e judeus. A rede de TV Al Jazira divulgou uma fita de áudio atribuída ao saudita na qual ele enumera e elogia os atentados cometidos em nome de Alá nos últimos meses e faz ameaças de novas chacinas. “Como você nos mata, nós vamos matar você”, diz, textualmente. Especialistas que analisaram a gravação asseguram que a voz é mesmo de Laden. Cauteloso, o governo americano preferiu aguardar o resultado de uma perícia ¿ mas admite que o presidente George W. Bush encara a mensagem da Al Qaeda “muito seriamente”. A Al Jazira, com sede no Catar, é o veículo preferido de Bin Laden para seus pronunciamentos. E esse vídeo tem bem o seu estilo, recheado de bravatas. Como cita fatos recentes, não poderia ter sido preparado antes do cerco de Tora Bora.
Em 19 de março de 2003: Ele esteve no Brasil
Quem diria: Osama bin Laden, o terrorista mais procurado do mundo, andou perambulando pelo Brasil no ano de 1995. Vindo da Argentina, entrou clandestinamente no país, passou três dias agradáveis em Foz do Iguaçu e reuniu-se com alguns membros da comunidade árabe na mesquita sunita da cidade, um imponente prédio erguido há vinte anos. Na mesquita, Bin Laden contou a seus companheiros de fé as agruras que enfrentou no Afeganistão quando lutava contra a ocupação soviética, conflito que durou dez anos e se encerrou no fim da década de 80. Na época de sua passagem pelo Brasil, Bin Laden ainda não era a estrela mundial do terrorismo, mas recebia as honras de um festejado líder islâmico. Seu encontro com os muçulmanos de Foz do Iguaçu, em nome da posteridade, chegou a ser filmado. O vídeo, preservado até hoje, tem 28 minutos de duração. Quem viu as imagens conta que Osama bin Laden aparece com um discreto cavanhaque, contrastando com a caudalosa barba que o celebrizou depois dos atentados a Washington e Nova York.
Em 21 de abril de 2004: Bin Laden propõe uma trégua a Europa diz não
O mundo só tem a lamentar o dia em que George W. Bush, o presidente dos Estados Unidos, erra e Osama bin Laden, o terrorista, acerta. Foi o que ocorreu na semana passada, com um intervalo de algumas horas, num campo de batalha específico, o da guerra de propaganda. Em um dia, Bush deu apoio a planos do primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, que os palestinos consideram inaceitáveis. Com isso, cometeu uma imprudência diplomática que serviu para alimentar a desconfiança do mundo árabe com relação à política da Casa Branca. No dia seguinte, dois canais de TV árabes divulgaram uma gravação com a voz de Bin Laden – cuja autenticidade foi confirmada pelos peritos da CIA – propondo uma trégua nos ataques à Europa. Uma proposta de paz vinda de um sujeito que manda matar milhares de inocentes motivado por fanatismo religioso não deve ser levada a sério. Os principais líderes da Europa reagiram às declarações do saudita com vários e sonoros nãos: “Não, não vamos negociar com terroristas”, disseram os governos da Itália, da Alemanha, da França, da Inglaterra e da Espanha. Apesar do conteúdo enganador da mensagem, ela demostra que Bin Laden sabe usar a propaganda, e no momento certo.Fonte Veja

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